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20 de out. de 2010

Alice pela Cia. espaço em BRANCO em São Paulo

Mas não quero me meter com gente louca', Alice observou. 'Oh! É inevitável', disse o Gato; 'somos todos loucos aqui. Eu sou louco. Você é louca.' 'Como sabe que sou louca?' perguntou Alice 'Só pode ser', respondeu o Gato, 'ou não teria vindo parar aqui.'
Alice no país das maravilhas
Hoje fui assistir ao espetáculo ALICE da Cia. espaço em BRANCO, em cartaz em São Paulo, no teatro oficina. O espetáculo estará em cartaz até o final de novembro, às quartas-feiras, sempre às 21h. Me deixam felizes as Alices que percorrem outros caminhos apartir do universo sugerido pela obra de Lewis Carroll, desvendando labirintos, numa identidade caleidoscópica, móvel e mutante.
 
As aventuras dessa Alice acontecem num círculo mágico, como uma mesa do chá, e o público se senta ao redor, participando da festa, brincando com Alice, bebendo vitamina de morango ou comendo mashmellows, metamorfoseados em corpo e sangue de Alice. Entramos num espaço de intimidade, Alice e suas crises criam jogos de ser ou não ser. O espetáculo é um convite ao estranhamento, e se a lagarta pergunta para Alice quem ela é, as Alices de Sissi Venturin nos sugerem o que Alice pode ser, num fluxo inesgotável de possibilidades efervecentes. 
 
Alice começa num casulo, quando se iniciam os seus ciclos de transformações e metamorfoses. Lá no alto vemos seus contornos que se desdobram como bicho que desce por um fio, como Alice que cai, borboleta que floresce, baba antropofágica, Aracne e sua teia, Ariadne e o fio que a conduz pelo labirinto. A linha é múltipla e plural, e se recria incessantemente num percurso narrativo em fragmentos, onde cada um é convidado a costurar e a tecer uma nova história.
 
Alice transita por veias e linhas e pelas entrelinhas do texto de Carroll, num labirinto onde Alice se procura e se perde num jogo constante de faz de conta, onde Alice é menina, criança, sombra, louca, ponteiro de relógio, bomba, monstro, bicho, flor, carta de baralho, rainha, caleidoscópio, banquete, xícara de chá, ovo, devir constante, desejo de tornar-se outro. Todos os personagens são Alice e ela mergulha em seu jardim de delícias, jogo de espelhos e imagens projetadas e sobrepostas onde nada é o que parece ser. 
 
Quando Alice encontra com o Humpty Dumpty, ele se decepciona por ela ser uma pessoa tão igual às outras, com uma boca, um nariz e dois olhos em cima, um de cada lado. Mas a Alice, nessa hora, é uma flor, um anturio, andrógino, meio fálico, meio coração de copas, que foi plantado, regado e amamentado ali no palco entre sugestões eróticas que dialogam com a sexualidade subterrânea de Alice. Se ela se torna flor, como ela pode ser igual a toda gente? 
 
Essa Alice zomba do bom comportamento das Alices certinhas, bem vestidinhas, sempre alegres, eficientes, coerentes, saradas, acomodadas e adequadas e faz um convite para enfrentarmos os desvios e a loucura, o improvável e o imprevisível que habitam em cada um de nós.
 
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