He Was Part of My Dream, 2017. Ilustração de ©Maggie Taylor.
I Was Part of His Dream, 2017. Ilustração de ©Maggie Taylor.
O Sonho
Os sonhos, tal como o processo criativo, envolvem uma mudança radical de percepção, uma suspensão da realidade convencional, uma recombinação de ideias desafiando o insólito e o impossível. No século XX, na obra de Surrealistas como Salvador Dali, Rene Magritte e Max Ernst, Alice abriu as portas para o maravilhoso, diluindo as fronteiras entre o inconsciente e o consciente, o sonho e a realidade. No final do livro, Lewis Carroll nos lança um desafio, reverberando seus interesses por fenômenos psíquicos e pelas filosofias do oriente: “O que é a vida, senão um sonho?”
Uma espécie de myse en abyme está envolvida nos sonhos paralelos de Alice e do Rei Vermelho no livro do Espelho. Alice sonha com o Rei, que sonha com Alice, que sonha com o Rei, e assim por diante, como dois espelhos que se defrontam.
Quando Alice encontra o Rei Vermelho sonhando, Tweedledee pergunta com o que o Rei está sonhando. “Isso ninguém pode saber”, responde ela. Ele diz que o Rei estava sonhando com Alice e se acordasse, ela desapareceria. Depois de acordar e voltar para casa, Alice precisava saber afinal quem realmente sonhou tudo aquilo. “...ou fui eu ou foi o Rei Vermelho. Ele fez parte do meu sonho, é claro..., mas nesse caso eu fiz parte do sonho dele também!”
O matemático e filosofo britânico Bertrand Russel expressou o dilema: “Não acredito que esteja sonhando agora, mas não posso provar que não estou.” A consciência de estar sonhando nos leva aos sonhos lúcidos. O tema atrai a atenção de psicólogos, místicos, artistas e são vividos com maestria pelos xamãs em várias culturas. Durante esses sonhos os onironautas têm a consciência que estão sonhando e podem ter controle do enredo do sonho e da criação do universo onírico. Esse é um caminho de jornadas profundamente transformadoras.
Em O Oráculo da Noite Sidarta Ribeiro discorre sobre o tema e nos sugere técnicas capazes de elevar a percepção do estado onírico, como o habito de se indagar frequentemente, durante o dia: “Será que estou sonhando?” Não é essa, fundamentalmente, a questão de Alice no Espelho? Que artistas ilustraram esse dilema?
Nas últimas décadas Maggie Taylor tem sido uma das mais singulares artistas digitais. Ela constrói narrativas fantásticas e surreais que trazem à tona a fantasia e o maravilhoso das aventuras de Alice. Unindo fotografias antigas com computação gráfica, Taylor se utiliza de camadas de sobreposições e iluminações poéticas que criam um clima de sonho em que a noção de tempo se dilui. Nós testemunhamos sonhos dentro de sonhos através de truques mágicos, que brincam com os códigos da fotografia, do ilusionismo e do teatro através de sequências de cortinas, palcos e paisagens em trompe l’oeil. Entre as ilustrações para o Espelho, em duas imagens Maggie Taylor povoa os sonhos de Alice e do Rei, inserindo um dentro do sonho do outro, abrindo um vórtex de proliferação infinita.
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