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17 de jul. de 2012

[EVENTO ESPECIAL] Um dia, Alice 2012 - entrevista com Adriana Peliano


 

 
Por Mariana Lima Pereira 
 
 



Sábado, 14 de julho, das 15h às 17h, a Casa das Rosas sedia a segunda edição do evento Um dia, Alice 2012. Uma homenagem aos 150 anos da primeira vez em que Lewis Carroll (1832-1898), escritor, poeta e matemático, contou a história de Alice durante um passeio de barco na Inglaterra vitoriana, em 4 de julho de 1862. História esta que originou o livro Alice no País das Maravilhas. Com curadoria de Adriana Peliano, designer e artista visual, Um dia, Alice 2012, parceria da Casa com a Sociedade Lewis Carroll do Brasil, oferece ao público palestras sobre artes visuais e literatura, narração de histórias, música ao vivo e projeção de vídeos.

A lotação máxima do evento é de 50 pessoas. O público participa das seguintes atividades: 

“Feliz desaniversário”, introdução feita pela Lagarta Azul, o mestre de cerimônias Jonnatha Horta Fortes;  “A vida é sonho”, apresentação de poemas presentes nas respectivas obras; “As metamorfoses de Alice”, mostra das diferentes representações de Alice na cultura e nas artes visuais da Inglaterra vitoriana até a contemporaneidade; “Era briluz”, leituras do poema Jabberwocky, em inglês, “Jaguadarte”, em português, na tradução de Augusto de Campos; “Alice subterrânea”, lançamento de coleção de figuras; “História aberta”, narração interativa de Alice no País das Maravilhas; e “Go ask Alice”, releitura de músicas que remetem à obra de Lewis Carroll.

Fundadora e presidente da Sociedade Lewis Carroll do Brasil, Adriana Peliano obteve um mestrado no Kent Institute os Art and Design (Inglaterra) e outro na Universidade de São Paulo, onde defendeu dissertação sobre as aventuras de Alice no Surrealismo. Mergulhando nos universos de Alice e dos contos de fadas, nos quais encontra inspiração para suas criações, Adriana abre portas para o universo do sonho e do maravilhoso.

Confira abaixo entrevista com a artista:


Casa das Rosas - Essa é a segunda vez que Um dia, Alice é realizado, certo? 


 Adriana Peliano - Certo. A primeira edição do evento Um dia, Alice foi realizada em 2010 no Centro Cultural Brasileiro Britânico (São Paulo). Estávamos às vésperas da estreia do filme do Tim Burton e um dos nossos objetivos era ampliar a visão do público em relação aos livros de Alice. Mostramos inúmeros exemplos de Alice na ilustração, palestra sobre o nonsense,  com música ao vivo, projeções de vídeos e ilustrações, um chá temático e outras atrações.


 CR- Quais as novidades para a edição de 2012? 


AP - Por conta dos os 150 anos do dia em que a história de Alice foi contada pela primeira vez, em 4 de julho de 1862, um dos focos do evento será contar a história do surgimento de Alice no País das Maravilhas. Em um famoso passeio de barco na Inglaterra vitoriana, Lewis Carroll contou uma estória inusitada e instigante para Alice Liddell e suas irmãs. O relato se tornou um encantador manuscrito todo ilustrado por Carroll, que o deu de presente para a Alice Liddell dois anos após o passeio de barco, com o nome de  Aventuras de Alice no Subterrâneo. A estória do manuscrito foi ampliada e reelaborada dando origem ao clássico Aventuras de Alice no País das Maravilhas.


No evento apresentaremos a tradução que fiz, junto com Myriam Ávila, do manuscrito de Alice, lançado pela editora Scipione. O projeto gráfico foi ideia minha. Fizemos uma versão em português mantendo o design do manuscrito original com uma fonte tipográfica simulando a letra do autor, mantendo as ilustrações e a diagramação original. Ficou incrível.

O manuscrito das "Aventuras de Alice no Subterrâneo  2012 o livro recebeu o terceiro lugar no prêmio Jabuti na categoria projeto gráfico.

 Vários participantes sensacionais lerão textos e poemas, como Claudio Willer, Thereza Vasques e Isadora Krieger. Ione de Medeiros fará uma projeção de imagens de sua autoria. O evento terá música ao vivo tocada por Paulo Beto, Érica Alves e Pedro Zopelar. Jonnatha Fortes, o nosso mestre de cerimônia - uma lagarta azul-, conduzirá toda programação. Eu farei uma palestra sobre as metamorfoses de Alice na arte e na cultura. Bia Goll criará um picnic temático. No final do evento teremos uma contação de histórias por Kiara Terra com projeções de imagens performágicas preparadas por Ricardo Ramos. Haverá o lançamento de uma coleção de figuras com recriações de Alice feitas por mim e pelos também artistas Ardenson Resende e Indio San.


 CR - Você tem algum trecho favorito de Alice no País das Maravilhas? 



 AP - Tenho vários momentos favoritos. O primeiro é o mergulho de Alice na toca do coelho, quando ela começa a se questionar e a questionar o mundo. Ela enfrenta o desafio de mergulhar no desconhecido sem ter a menor ideia de como sairia dali outra vez. Outra passagem que amo é o diálogo de Alice com a lagarta. Diante da pergunta "quem é você?" Alice diz que não sabe quem é, depois de ter se transformado tantas vezes naquele dia. Ela se descobre uma metamorfose ambulante. Sou atraída por todos os momentos nos quais ela se pergunta quem é e como se transformar, duvidando das fórmulas prontas e estagnadas de pensar e existir. E o mais enigmático [em Alice no País das Maravilhas] é o sorriso do gato (sem gato) pairando no ar. Adoro essas alicinações enigmágicas e paradoxais presentes no livro. Mas, como também sou uma metamorfose ambulante, cada vez que o leio descubro e me apaixono por algo novo.


 CR - Como se dá o seu processo de criação? Quanto tempo, em média, você leva para criar uma nova arte? Além das obras do Carroll você utiliza outras referências também? 


 AP - Quando ilustrei as duas Alices de Lewis Carroll na década de 90, estudei cada passagem das obras buscando trazer para as figuras os jogos de linguagem e paradoxos de Alice. Foi um desafio e uma descoberta de que ilustrar Alice é uma atividade inesgotável, pois é uma obra que se move e revela aspectos diferentes a cada leitura. Levei dois anos para criar as imagens. Primeiro criei os personagens através de objetos diversos, brincando com as formas, os nomes e as funções de cada um. Depois elaborei as ilustrações em computação gráfica, criando camadas de possíveis leituras para cada passagem dos livros.

 Depois disso fiz diversos trabalhos alicinados e alicinógenos. O tempo de duração e o processo variam a cada caso. Estou sempre pesquisando textos e figuras de Alice. Nos blogs da Sociedade Lewis Carroll posto muita informação a respeito. Tendo lido o livro tantas vezes e visto tantas figuras de Alice, na criação hoje sou mais intuitiva. Em geral trabalho com colagens, objetos e imagens que se comunicam comigo e me convidam para viagens imaginárias. Às vezes o trabalho é muito rápido, noutras leva um tempo maior de maturação. Como Alice atravessa minha vida, estou cercada de trabalhos em processo, sempre em busca das metamorfoses da menina.

 Há dois anos ilustrei um livro de Kátia Canton chamado Lewis Carroll na Era Vitoriana, editado pela DCL. Esse livro ilustrei com colagens unindo as ilustrações originais de Tenniel com obras da história da arte. Algumas dessas ilustrações estão, nesse momento, expostas em Oxford, na Inglaterra. Recentemente criei uma série de imagens buscando uma Alice mais sombria e surreal. Nesse caso fui inspirada por minha dissertação de mestrado na USP, cujo título foi Através do Surrealismo e o que Alice encontrou lá, sob a orientação de Kátia Canton.

 Na literatura, além de Carroll e dos livros de Alice, sou muito inspirada pelo universo dos contos de fadas. Os contos de fadas clássicos, ou recriações contemporâneas questionadoras e subversivas, como a obra da escritora inglesa Angela Carter. Amo chapeuzinho vermelho. Sou atraída por histórias em que heroínas viajam por mundos misteriosos, sempre conversando com minha imaginação da infância. Desenvolvo no momento um trabalho sobre as viagens de Emília na obra de Monteiro Lobato. Sou fascinada por animação stop motion, como a animação tcheca, e também me atraem trabalhos com colagens em diferentes linguagens e suportes. A história da arte é uma fonte inesgotável de possíveis diálogos. Estou sempre descobrindo e inventando.


 CR - Como é a rotina da Sociedade Lewis Carroll do Brasil? 



 AP - Existem Sociedades Lewis Carroll em vários países, como Inglaterra, Estados Unidos e Japão, muito mais antigas do que a nossa. Estou em permanente contato com membros dessas Sociedades trocando material de pesquisa com frequencia. Pessoas me escrevem fazendo perguntas, mostrando trabalhos artísticos e teóricos e essas pessoas também se correspondem entre si, criando uma rede de alicinados. Ano passado dei uma palestra em Nova Iorque, sobre a presença de Alice nas artes visuais, no evento da Sociedade Lewis Carroll da América do Norte.

 Mantenho dois blogs principais onde posto tudo que encontro de interessante sobre Alice na rede, além de imagens das minhas coleções. Estou sempre atrás de novidades, curiosidades, Alices estranhas, intrigantes, surpreendentes, invisíveis, sutis. Alices em diferentes encarnações. Nossos eventos e atividades são idealizados entre os membros da Sociedade e levados para o grande público. Em São Paulo criamos o evento Um dia, Alice. Em Belo Horizonte apoiamos o evento "Carrollsday", que aconteceu no último dia 4 de julho, no Sesc Palladium. Participei do evento, apresentando uma performance de retroprojeções musicais, com Paulo Beto e Dayane Lacerda.


CR - Qual a sua relação com a Casa das Rosas? Qual a expectativa de realizar o Um dia, 
Alice na Casa? 


 AP - Considero a Casa das Rosas um espaço privilegiado na cidade para a promoção da literatura e da arte. Ao meu ver a Casa se destaca pelo seu inestimável acervo literário, por sua equipe, pela programação intensa e instigante, pelo compromisso com os desafios da linguagem. Além é claro, da riqueza da arquitetura em todos os seus detalhes preciosos. O jardim da Casa das Rosas é também um espaço perfeito para aventuras alicinantes. Nossa expectativa é que essa parceria entre a Sociedade Lewis Carroll do Brasil e a Casa das Rosas possa contribuir para oferecer novas possibilidades de leitura e de exploração da obra do autor inglês e sua presença na cultura e nas artes.


Site Sociedade Lewis Carroll do Brasil
Site Adriana Peliano
Grupo Thumbelina retroprojeções musicais
Discontos de Fadas


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