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30 de jul. de 2011

Gosu-rori Images form the book: Gothic and Lolita by Masayuki Yoshinaga and Katsuhiko Ishikawa




Gothic and Lolita




Gothic and Lolita





A primeira vez que li Alice, me imaginei caindo com ela até chegar ao outro lado do planeta aonde vivem as pessoas de cabeça para baixo, isto é, para quem vive no Brasil, no Japão. Muitos anos depois eu descubro que no Japão estão algumas das mais estimulantes Alices vivendo nos dias de hoje, no cotidiano da cidade de Tokyo, compartilhando sonhos, criando novos mundos. Meninas e meninos que são crianças e adultos ao mesmo tempo, se vestem de bonecas vitorianas reinventando as ilustrações de John Tenniel, entre outras paixões e mimos. Entre gestos, trejeitos, aventais, rendas, meias, laços, babados, Alice vira um novo modo de viver na contracultura de bairros alicinantes como Harajuku, Shinjuku e Akihabara. Lugares aonde se celebra a outridade e a alteridade, abraçando o maravilhoso dentro da cartografia contemporânea, viajando no tempo e na invenção de si.



Gothic and Lolita


O nascimento da cultura Gosu-rori (gothic Lolita) coincidiu com a publicação da tradução de Fushigi no kuni no arisu por Yagawa Sumiko, como me mostrou Sean Summers em Arisu in Harajuku. Ele é o meu coelho branco que me revelou essa realidade surpreendente e em grande parte mal compreendida. Sumiko estimulou o florescimento de uma contracultura que libera a imaginação das rotinas sociais repressoras e repetitivas, abrindo a possibilidade de novas amizades com o tempo.




Gothic and Lolita


O país das maravilhas (Fushigi) revela um atmosfera de sensações, incluindo encantamento, maravilhoso, mas também mistério, estranhamento e medo. Fushigi no kuni no arisu foi traduzido de modo a penetrar nas necessidades existenciais de uma geração, particularmente uma juventude marginalizada e desajustada que podia assim enfrentar o mau estar, a depressão, a violência e a rejeição, através do maravilhoso manifestado no cotidiano.



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Fushigi não sugere devaneio ou escapismo, aponta Sommers, mas uma terapêutica da criatividade e uma “alquimia da metamorfoses”. Uma subversão dos padrões do feminino, derrubando as fronteiras entre o que é feio e bonito, doce e perverso, violento e delicado. Lolitas buscam prolongar a infância e questionar a cultura dominante com jeito de criança e pose de boneca, numa brincadeira de ser ou não ser que atravessa as fronteiras entre arte e vida. Será que Hello Kittys comem morcegos? Será que morcegos comem Hello Kittys?



Gothic and Lolita


Mas é importante ter em mente que faz também parte da própria lógica da moda contemporânea o exercício da metamorfose ambulante. A criação e expressão do si como um exercício de criatividade virou também um jogo de mercado. Vivemos na cultura da diferença, aonde entram em cheque uma pretensa criatividade e um desejo de unicidade conformado em fórmulas de existir, como identifica Cristiane Mesquita. A roupa pode ser um lugar de expressão num território existencial. Mas a moda também oferece no mercado identidades efêmeras de fácil substituição para serem consumidas. Como distinguir uma coisa da outra? Alice nos desafia.

 Alice pode padronizar, domesticar e conformar, mas também pode inquietar, intrigar, desestabilizar.  Ela nos põe em contato com a incerteza, o imprevisível, a incoerência, o indomesticável. Incorporando idéias de Rosane Preciosa sobre a existência, rompendo com modelos hegemônicos de existência, as novas Alices devem inventar universos existenciais. Alices se entregam para a grande vida e dizem: eu sou uma pergunta.



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Fragmento do artigo: "A caça de Alice em sete crises" de Adriana Peliano.

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