Sylvie Moreau (detail)
Quem foi Guiseppe Arcimboldo?
Rodrigo da Costa Araújo
"O Bibliotecário" de Arcimboldo.
Nascido em Milão em 1527, Guiseppe Arcimboldo além de pintor, foi figurinista, decorador e escritor. Foi conde do Império e trabalhou quinze anos na Corte de Maximiliano e onze anos na Corte de Rodolfo II onde recebeu muito ouro e honrarias.
Suas obras mais representativas e transgressoras na época eram as várias Cabeças Compostas, onde retratavam perfis humanos, feito colagem, junção de bichos, plantas, objetos que compõem alegorias labirínticas. Fragmentos, objetos e signos duráveis, imóveis e justapostas que exigem do espectador a lentidão do olhar, a postura de observador e dedicação para decifrar a multiplicidade e sofisticação de detalhes da imagem.(...)
Por outro lado, sua técnica e exigência da atenção, parecem anunciar pela profusão de colagens, formas, traços, texturas, objetos e signos um novo tipo de leitor - o leitor “fragmentado, movente”, segundo Santaella. Não importa, ensimesmados, os leitores desconfiam, juntam fragmentos aqui e ali para comporem e incorporarem a imagem múltipla, fugidia, um universo que se confunde e se mescla com o real e com a imaginação.
Com sua morte em 1593, em pouco tempo, suas alegorias e façanhas caíram no esquecimento. Mas, pelo visto, Rodolfo II, com suas estranhas manias e coleções, inspirou a arte de Arcimboldo. Nas salas desse imperador que Arcimboldo contribuiu para enriquecer com seu talento, tinham: “vermes enormes, anões, gigantes, escorpiões, gêmeos siameses, pedras mágicas, aparelhos mágicos, labirintos, instrumentos musicais, relógios, fósseis de animais e plantas, instrumentos ópticos, espelhos de toda sorte, curiosidades da Índia, da China ou do Peru”.
Pelo visto, segundo Hocke em seu livro Maneirismo: O Mundo visto como Labirinto o estilo metafórico e “a técnica das imagens compostas- enigmáticas e alegóricas” foi exemplo para as artes dos séculos XIX e XX.
Enfim, esse museu bizarro a céu aberto das “metonímicas banais” das composições arcimbolescas instigou pintores e estilos do romantismo ao surrealismo. Os devaneios labirínticos que retomam o famoso conto A Biblioteca de Babel (2001), de Borges e a força dessa poesia que alucina nosso olhar relembram e confirmam o universo de Arcimboldo. O tempo inteiro, suas telas reforçam “o jogo que lança sobre nós um feitiço: é “fascinante”, “cativante”.” (...)
Partes que se juntam, colagens, desenho que permite o esboço, o inacabado e o desviante. Reunião de fragmentos dispersos, “exercícios da linguagem”, manifestação sob forma de “encadeamentos de signos”, “textos de gozo”, ao sentido barthesiano da palavra. Perfil criado em folhas soltas de um livro que deseja ser um retrato - um mosaico ilusionista, um desenho de perfil ou mais uma cabeça composta? (...)
Fonte: O Bibliotecário, de Arcimboldo. De: Rodrigo da Costa Araújo.
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Veja o blog LABIRINTOS DE ARCIMBOLDO
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