A adaptação de Ana Maria Machado traz uma importante contribuição para as traduções e adaptações de Alice já realizadas para o português. Nela, em especial, o texto de Alice é em grande parte traduzido na íntegra, mas os trocadilhos, paródias e jogos de linguagem característicos de Carroll são adaptados para o português e a cultura brasileira com humor e sensibilidade.
Ana Maria Machado procura brincar com as palavras e os sentidos como Carroll brincava, mas na nossa língua, parodiando poemas nossos conhecidos por nossas crianças das gerações recentes como o poema “A casa” de Vinícius de Moraes, casa fantástica e imaginária que existe apenas na linguagem.
Nas palavras da tradutora, “Quase todas as traduções de Alice para o português, tradicionalmente, mesmo as melhores, procuravam se dirigir às crianças e, para isso, achavam que tinham só que contar a histórias e deixar de lado os trocadilhos, as piadas lingüísticas, as alusões literárias – principalmente por que era muito difícil traduzir isto. Mas a história ficava sem pé nem cabeça, e o nonsense típico de Carroll virava insensatez, já que grande parte da história é um resultado direto desse jogo de palavras, nasce deles, e seria completamente diferente se o autor tivesse escrito em outra língua. Por outro lado, uma tradução brilhante, fiel e criadora como a de Sebastião Uchoa Leite sem dúvida a melhor de todas, se dirige a leitores maduros e sofisticados, capazes, por exemplo, de descobrir sozinhos a que poemas do século XIX as paródias dos textos se referem e, então, apreciá-las completamente”.
Ana Maria Machado
Era uma escola
muito engraçada,
não tinha livro,
não tinha nada.
Ninguém podia
estudar lição,
porque o lápis
caía da mão.
Ninguém podia
aprender besteira
por que na sala
não tinha carteira.
Ninguém podia
nem desenhar
por que papel
não tinha lá.
Ninguém podia
fazer dever
porque a escola
ia tremer.
Ninguém podia
escrever com giz
por que entrava
pó no nariz.
Mas era feita com bom capricho
na Rua do Gato,
País do Bicho.
ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS
Tradução de Ana Maria Machado.
Ilustrações de Jô Oliveira. (Brasil)
São Paulo: Editora Ática, 1997.
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