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14 de abr. de 2010

Pré estreia do Tim Burton: notícias desanimadoras



Minha participação no programa Metrópolis que foi ao ar dia 14/04.




Ontem à noite, 13 de abril, fui assistir a pré-estréia da Alice do Tim Burton no Shopping Cidade Jardim em São Paulo. Assim que chegamos, Paulo Beto, meu marido, e eu, fomos direto trocar os ingressos na loja da Ellus. Estava havendo na loja um coquetel inspirado no filme. Em uma mesa de chá, repleta de louças, relógios e outras curiosidades, ofereciam bolinhos escritos "Eat me" quase iguais aos que veríamos no filme. Na garrafa de champagne, é claro, estava escrito "Drink me". Mas não bebemos. Ninguém vestido, pouca diversão e imaginação entre os participantes. As únicas fantasiadas eram duas modelos gêmeas que ficavam na frente da Ellus. Lembramos é claro, das lindas gêmeas do nosso evento no domingo anterior.




Ficamos um tempo na fila para assistir o filme até que meu figurino chamou a atenção do apresentador do programa Metrópolis, o Cunha Jr. Ele fez comigo uma rápida entrevista sobre o livro de Alice e a vida de Lewis Carroll, além é claro, de perguntar sobre as minhas expectativas em relação ao filme. Confesso gente que falei a verdade, que pelo que sabia o filme era ruim, cheio de clichês e estereótipos. Acho que não foi o que ele queria ouvir, né? Mas, com a sua simpatia de costume, ele apenas recomendou que eu me despisse de preconceitos e me abrisse para curtir a experiência que a obra iria proporcionar.



O filme começou. Apesar de infinitamente apaixonada por Alice, não consegui me divertir. O filme, no mínimo, é muito chato. Gosto da atriz que faz a Alice, como acho que tinha potencial a sua atitude independente e questionadora, com traços feministas. Gosto também do filme apresentar um contraponto sombrio em relação ao clássico da Disney, resgatando uma linhagem de ilustradores, que apartir de Arthur Rackham (1907), se aventuraram no pesadelo e não apenas no encantamento pueril. Bem, comecei com a parte boa.



Entretanto, o filme nada tem a ver com Alice, além dos personagens inseridos em outro contexto e frases soltas do livro ditas por outros personagens, em situações desconectadas do sentido que tinham no livro. Não sou do tipo que cobro fidelidade à obra original. Minha Alice favorita é a do Svankmajer, louca, soturna, estranha, quase sem palavras, num livro que é pura lógica e jogo de linguagem. Poderia ser uma deturpação, mas não é, mergulha no inconsciente do personagem em seu rito de passagem, com seus medos, angústias do crescimento, sexualidade nascente. Mas esse é outro filme.



A Alice do Tim Burton se esvazia em clichês de filme de fantasia. Podia ser Nárnia aqui, Senhor dos Anéis acolá, os personagens parecem deslocados, vindos de outras histórias e sem saber por que estão ali. O filme é essencialmente maniqueísta, enquanto a Alice de Carroll não tem moral, e essa foi uma de suas grandes inovações em relação à literatura infantil do período vitoriano. Enquanto Carroll conseguiu subverter as regras e convenções da rígida e repressora sociedade vitoriana, Tim Burton volta às lições de moral e o confronto comportado entre o bem e o mal.



Em função disso, os personagens são caricatos e lineares. A Alice é mais adulta e independente, mas perde as angústias e os conflitos da Alice original que a tornam tão fascinante. A Alice de Carroll, ao invés de ver toda a sua aventura como parte do próprio sonho como no filme de Tim Burton, tem medo de nada verdade não passar de um sonho de outra pessoa. Sua identidade está constantemente em cheque. No filme, seu perfil de heroína é muito mais linear e óbvio. Nada pior do que a Rainha Branca do Tim Burton, um misto de fada insossa com uma apresentadora de programa de culinária. Destestável se pensarmos que a Rainha Branca de Lewis Carroll, do livro do Espelho, era uma visionária excêntrica que se lembrava do futuro e que ensinava a acreditar em até seis coisas impossíveis antes mesmo do café da manhã. Johnny Depp, cheio ode trejeitos caricatos, está instigante quando recita o poema Jabberwocky e a Rainha de Copas rende bons momentos. Mas em geral o resultado é aborrecido.



O cenário, o figurino e a direção de arte revelam momentos de poesia e encantamento. O mais legal é quando Alice cai no poço e de repente, num jogo de inversões inusitadas, vai parar no teto de cabeça para baixo, com um desdobramento surpreendente. Sua chegada no país das maravilhas também é lúdica e mágica. Entretanto, o filme deixa de lado o humor e a reflexão do livro, em direção às cenas de ação e batalha. Claro que um pouco para justificar os efeitos do 3D já que diálogos inteligentes não causam impacto no virtuosismo da imagem.



Falei, falei, precisava desabafar. Tive muita expectativa, talvez tenha sido a minha parte no erro. Devo um dia ver de novo, e refletir novamente depois do primeiro impacto negativo e frustrante. Quem sabe encontre novas maravilhas no filme. Entretanto preciso no final agradecer ao Tim Burton e à Disney com todo seu investimento no marketing do filme, que fortaleceram de forma nunca vista, a presença de Alice no imaginário contemporâneo. Com o filme tivemos a chance de ler o livro, pesquisar imagens com diferentes linguagens, compartilhar interesses, encontrar outros fans da obra, nos emocionar, descobrir novidades para comprar e baixar na internet, enfim mergulhar, cada um ao seu modo, nesse mundo emocionante que ainda nos desafia a novas aventuras.


Tatuagem de Felícia Nova, por Márcio Duarte.

Ainda assim, espero que vocês vejam, se divirtam e mandem seus comentários me contrariando, por favor.

todas as imagens foram fotografadas no dia do evento pelo celular de Paulo Beto.
O que eu mais queria era ter amado o filme.




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