Jan Svankmajer
Isso perguntou o empertigado Coelho Fillosófico, em poucas rimas libertinas, à frente do espelho onde, como de costume, não só o cabelo penteava; antes demorava-se a conversar consigo mesmo, em diálogo de imagem e ecoar refletidos. O que dava a ele, ao Coelho Fillosófico, inaudita autoridade – a daquele que não só pergunta mas a si próprio responde, sem saber se quem pergunta é o do espelho em que se vê refletido ou é esse mesmo, meu Deus!, quem responde.
O Coelho Fillosófico percebendo que também a pergunta já era uma complexa resposta, dissertiva tese sobre o Tempo, só fez retirar do bolso do colete de seda, uma navalha. E entregou-a ao Coelho do espelho. “Para melhor saber isso, abra e corte com ela o vento!” – ordenou de repente.
O Coelho Fillosófico que sempre fora uma imagem exata tomou nas mãos a navalha do Coelho que autoritário ordenava e fez do vento numerosos retalhos. De diferentes cores e tamanhos.
Ante o já assustado Coelho Fillosófico – até hoje não sabemos qual dos dois o que ordenava –, reclamou com a tíbia voz da inocência: “Por que em vez de me dar uma navalha, você não me deu uma tesoura? Seria tão mais prático!!!”
Essa história anda a Floresta, contada por ratos e serpentes, abelhas e borboletas, besouro e vagalume, num diz-que-me-disse, num fala-que-fala, insidioso zum-zum que anda por entre sequóias e samambaias. Atravessada de Antes, Hojes e impecáveis Amanhãs que – ainda – jamais existiram.
Ante o já assustado Coelho Fillosófico – até hoje não sabemos qual dos dois o que ordenava –, reclamou com a tíbia voz da inocência: “Por que em vez de me dar uma navalha, você não me deu uma tesoura? Seria tão mais prático!!!”
Essa história anda a Floresta, contada por ratos e serpentes, abelhas e borboletas, besouro e vagalume, num diz-que-me-disse, num fala-que-fala, insidioso zum-zum que anda por entre sequóias e samambaias. Atravessada de Antes, Hojes e impecáveis Amanhãs que – ainda – jamais existiram.
Revista Idéias, nº 99, fevereiro 2010, Travessa dos Editores.
Jan Svankmajer
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